Maternidade sem purpurina

Maternidade é assunto muito sério para não ser falado (de verdade), é sério demais para resumir a fotos e comercial de margarina, para simplificar a "filho a gente dá um jeito, a gente cria". Maternidade é assunto muito sério porque é o maior encontro que temos com nós mesmos na vida, é a maior chance que temos de crescer e rever nossas atitudes, comportamentos e sentimentos. Nossos filhos são nós, e ponto.


Se você não quer se ver, dificilmente entenderá seu filho. A educação de nossos pitocos é a nossa educação. Não existe essa de "posso fazer o que quero pois não estou educando ninguém, não tenho filho ainda". Aquele velho pensamento idealista e mágico de que tudo será diferente quando o bebê nascer já coloca no pequeno serzinho uma puta responsabilidade de ser, praticamente, o responsável pela criação dos pais perfeitos. E aí começa a troca de figuras. 


O abismo gigante que existe entre a gravidez e o nascimento não pode ser mascarado, e é esse um dos objetivos deste blog, falar sobre ele. Pessoas tomam decisão de engravidar o tempo inteiro, e na maioria das vezes, pensando no filho dos outros "olha que amor aquele bebê, quero uma igual!", e não pensam que terão os seus próprios. Nossos filhos são cheios de nós, cheios de tudo que temos de lindo mas também, tudo que temos de difícil. "Esse talento ele puxou a mim, já esse gênio difícil, não sei a quem foi..." Já ouviu essa frase? Pois é sobre isso que estou falando: Puxou a mim também, puxou ao pai.

Meu filho é, sem dúvida, meu maior amor, minha maior alegria e meu maior orgulho. E é lindo, lindo demais porque foi pensado, foi planejado, é cuidado e educado com todo nosso amor. Só que ele não aprende sozinho, ele tem seu tempo e tudo é novo, ele não sabe que fogo queima, que tomada dá choque, o que é choque?, ele não sabe que piscina pode ser perigosa, que comida não se joga no chão, que remédio precisa ser tomado, que mamadeira é um peito de mentira, que a patente não é o brinquedo mais legal do mundo, que o lixo é sujo (oi, sujo?), que o carro que vem na rua pode fazer dodói, o que é dodói? que, que, que...

Para tudo isso ele precisa de mim e do pai, de nosso cuidado e nossa atenção, ele é novo nesse mundo e nosso papel é ir apresentando esse mundão com alegria, com amor, com ansiedade, com coragem, com medo, com toda energia e às vezes com cansaço, com humor e com incertezas (sim, pais tem incertezas, medo, e cansaço e é normal)... é assim que ele vai construindo seus relacionamentos e seu conhecimento. 


Por tudo isso que nunca mais, depois que me tornei mãe, falei que a maternidade é tarefa fácil, porque não é. Não é fácil quando assumida com responsabilidade, quando temos consciência de nossa importância na criação de nossos pitocos, não é fácil quando nos damos conta de nossa responsabilidade frente ao mundo quando educamos uma criança, não é fácil porque às vezes estamos muito cansados e, por fim, não é fácil porque a única coisa que fomos pela vida inteira foi filho e agora seremos para sempre pais. E aqui tudo muda, completamente.


Por outro lado, é o maior prazer da vida quando nos deixamos ser mães e pais naturalmente, quando vivemos integralmente (não falo de tempo, falo de qualidade!) aquele momento com nosso bebê, quando nos colocamos no papel de aprendizes. Nessa vivência de constante aprendizagem o essencial é nos jogarmos junto com eles na busca do novo e do conhecimento e esse é o melhor momento: enquanto eles vão descobrindo, nós vamos redescobrindo cada detalhe do mundo, e de nós! 


O objetivo do blog Mãe por dentro é falar abertamente sobre nossos sentimentos de mãe, sem firulas, sem purpurina, falar do cotidiano, dos sorrisos e choros, da coragem e dos medos, dos perrengues, das delícias e dos improvisos, enfim, das loucuras de quando nos tornamos mãe. Papo reto de mãe para mãe e para todo mundo.





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